22.2.06

Dia 2

Que noite! Acordem por diversas vezes com a sensação de ouvir ruídos. À segunda vez julgo que ouvi um barulho idêntico ao de uma moto, mas não posso confirmar porque ainda não tenho janelas… E era delas que via passar todos dias gente na rua, em frente ao meu prédio! Muitas vezes dei comigo a pensar, “esta gente anda de trás para a frente, não têm calma nenhuma”. Lembro-me das vezes que da janela do meu quarto atirava balões de água pelo Carnaval, e ria ao ver as suas reacções.
Há uma noite aqui e já me ponho a rever episódios da minha vida lá em cima, parece que vou passar o resto dela esquecido cá em baixo!
Já andam à minha procura, certamente… ou vão começar hoje. Se não for hoje é amanhã, até lá tenho que arranjar forma de chamar a atenção. Chamar a atenção, como? Gritar não adiantou de nada, fiquei com uma dor de garganta terrível.
Para falar a verdade, nem me lembro bem como vim aqui parar, excepto o motivo pelo qual sai de casa, esse está partido no meu pulso!
… Fui raptado! É isso. Adormeceram-me e atiraram-me para este fosso, vão exigir um resgate aos meus pais. Não!... Oh, meu Deus!!! Vou ser vendido aos “retalhos”. Órgãos, retiram-mos e vendem-nos. Não pode ser! Fartava-me de ouvir histórias na televisão sobre raptos e tráfico de órgãos, cheguei a um ponto que mudava de canal. Crianças raptadas, levadas para Espanha e aí vendidas a famílias que pagavam um bom preço por um “filho”. Serei eu um deles?!
Tenho que manter a calma, para isso tenho passado o dia a fazer desenhos na areia. O que eu queria era jogar na minha consola, deitado na cama e ouvir a vizinha do 4º andar a aspirar.
Nem aspirador, nem carros, nem pássaros. Não oiço nada desde que acordei!
Deitei-me com a ideia de que ao acordar não passava tudo de um sonho, ou pesadelo. Debrucei sobre mim mesmo, segurei os joelhos junto ao peito de forma a disfarçar o frio que sentia.
Não sonhei, abri os olhos e o pesadelo continuava… continua!